A música que tocava como trilha sonora, ao fundo, lentamente entorpecia os meus sentidos.
Apesar de o lugar estar movimentado, cheio de pessoas dançando e casais se amando, eu sentia um olhar especial percorrer por todo o meu corpo. Sentada ali, tentava analisar cada moça daquele salão: todas estavam bem vestidas e acompanhadas. Exceto eu. Mas mesmo que não tivesse um homem concreto comigo, tinha aquele olhar furtivo, que me era lançado a cada segundo. Ele me intrigava e chamava a minha atenção, ao mesmo tempo eu tentava desviar o rosto de modo que os meus olhos não se esbarrassem com os dele. Praticamente impossível. Ele sustentou aquele olhar por horas, aquele olhar que passeava livremente pelo meu colo descoberto, passeava sem pedir permissão. A permissão, porém, era concedida mesmo sem o pedido oficial. Do outro lado do salão aquelas pedras de esmeralda que me fitavam, me convidaram para dançar. Instintivamente eu aceitei. Os braços de mármore envolveram o meu corpo delicado e apertado pelo espartilho, e me conduziram numa dança infinita. Com os nossos lábios e corpos colados e respiração ofegante, nos amamos pelo resto da noite, traçando a cena final do nosso filme.
E a música que tocava como trilha sonora, ao fundo, lentamente entorpecia os meus sentidos.
À deriva
Há 9 anos